A mediação é o espaço de conversa seguro, confiável, facilitado por um profissional capacitado e escolhido por pessoas que estão vivenciando qualquer situação conflituosa, cuja finalidade é gerar a comunicação focada no entendimento entre todas elas, devolvendo-lhes a convivência pacífica e, como consequência, renovando-lhes a qualidade de vida!

Como no judô, aquele que investe resiliência, paciência, tolerância, disciplina, respeito, generosidade e tantas outras habilidades, na relação consigo e com o outro, tem muita chance de passar da faixa branca à faixa preta. Essa metáfora mostra bem o caminho da mediação, com paisagens e cenários de desafio, de persistência, de determinação, de superação, de vitória, de derrota, de dor, de alegria, e tantos outros, para se chegar ao objetivo almejado!! Em outras palavras, apesar de todos os percalços que envolvem uma viagem em grupo, cada um dos integrantes se esforça, aposta e acredita que pode, com a colaboração do mediador, chegar ao destino alvo.

Uma pergunta que me fazem com frequência é a seguinte: Será que todas as pessoas que estão vivenciando um conflito, qualquer que seja ele, podem participar desse trabalho? Em outras palavras, que condições devem estar presentes nos participantes, para que se possa realizar uma mediação exitosa?

Cabe ao mediador verificar, com cautela, se os envolvidos no conflito têm condições para participar da mediação. Essas condições, muitas vezes, não aparecem no primeiro encontro do mediador com os referidos atores do conflito. Essa é a razão pela qual o mediador não pode prejulgá-los ou pressupor, de antemão, o que vai acontecer na mediação. Não se trata aqui de mediação “fast food”. Bem por isso, o mediador precisa ter muita paciência e tolerância, observando o tempo de cada mediando e identificando o contexto. Deve, também, estar muito atrelado ao conceito próprio de mediação e seus princípios.

Assim, nesse texto, abordo sobre algumas condições inerentes à participação dos envolvidos em um determinado conflito, que não são taxativas e nem colocadas por ordem de importância.

1-) Consciência do conflito pelos mediandos:

É muito importante que os participantes tenham consciência de que estão em conflito, ou seja, que assumam que estão passando por uma situação desafiadora. Não é fugir dele, ou ignorá-lo, mas refletir o que cada mediando pensa, sente e vai fazer para resolvê-lo.  Os participantes entendem que tem problemas e que estão com dificuldade de resolvê-los sozinhos. Em consenso, procuram um mediador, para que esse terceiro colabore na facilitação da comunicação entre eles. 

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2-) Vontade de participar da mediação:

Essa vontade, que é da ordem do subjetivo (pensar e sentir), deve ser transportada para fora, para o mundo, através de atitudes. Em outras palavras, esse querer impulsiona o mediando a ser criativo, comprometido e compromissado com a mediação, levando-o a pensar em opções e possibilidades de resolver o conflito.  Essas opções e possibilidades dizem respeito à sua pessoa, ou seja, ao comprometimento em tomar certas atitudes, que fomentem o diálogo para a “desconstrução” do conflito, a reconstrução da relação e coconstrução da sua resolução.

Como na figura retro, é fazer a engrenagem funcionar. E ela só vai funcionar se todos fizerem a sua parte. Se um só dos mediandos não fizer a sua parte movimentar, o sistema não vai funcionar.

Na minha experiência como mediadora, quando converso com os mediandos, digo-lhes que essa vontade é traduzida por movimentos que cada um vai fazer, para a “garantia de vida”. Dou-lhes o exemplo do eletrodoméstico, que perdeu sua garantia: Cada um, como consumidor, vai ter que provar para a loja, que fez bom uso do aparelho, para que o seu conserto, não tenha qualquer custo.

3-) Autodeterminação dos envolvidos:

Significa ser protagonista da própria vida, decidindo, por si próprio, e não delegando a decisão a terceiros. Cabem, àqueles que criaram o conflito, a sua “desconstrução”, reconstrução das suas relações e a coconstrução, ou re-significação do conflito. O conflito surge, fundamentalmente, da comunicação sem conexão. Isto significa, que a comunicação (verbal e não-verbal) entre as pessoas está com ruídos, incluindo o silêncio. Para que o conflito possa ser resolvido, as pessoas precisam aprender a se comunicar de forma eficiente, eficaz e afetiva. É no próprio diálogo que os mediandos podem resolver suas questões e criar contextos futuros de entendimento.

4-) Assunção da responsabilidade dos envolvidos:

Sabemos que, na mediação, não se procura culpados, mas pessoas responsáveis pela desavença. Encontramos o ouro na mediação, quando as pessoas se responsabilizam, reciprocamente, quanto à existência e desenvolvimento do conflito, e como fizeram para chegar onde estão.  A reparação dos danos sofridos por cada qual é a consequência, acompanhada, às vezes, de um pedido legítimo de desculpas. Qualquer que seja essa reparação, em forma de assunção de responsabilidades, faz com que as relações humanas sejam construídas em outra dinâmica, possibilitando conversas transformadoras.

Helena Gurfinkel Mandelbaum 

Mestre em Mediação pelo IUKB-Institut Universitaire Kurt Bosh- Maestría Latinoamericana Europea en Mediación; mediadora; terapeuta de casal, família e corporativa, consultora, docente e palestrante sobre métodos de abordagens de conflitos e crises.

@helenagmandelbaum

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