Tanto na infância, quanto na adolescência, eu detestava brigas. Eu me sentia muito incomodada ao presenciar pessoas gritando, xingando, usando de violência umas com as outras. Na fase de prestar vestibular, estava inclinada a cursar Psicologia, mas o Direito falou mais alto, pois eu gostava de lidar com as famílias e suas complexas questões, tendo a lei como base estrutural para o caminho a seguir. No entanto, fiquei exausta de ver as pessoas se destruindo, deixando de observar o que as suas atitudes impactavam no sistema familiar, principalmente na saúde mental dos filhos.
Um caso, em que fui advogada da mulher, foi a gota d’água, para eu repensar minha carreira. Em 2001, resolvi seguir, paralelamente à advocacia, o caminho da pacificação e inclusão social, por meio da Mediação. A apresentação da Mediação, para mim, deu-se no contexto terapêutico, como um caminho a ser desbravado, pois, na percepção da minha terapeuta, era compatível com minha história de vida.
Esse caminho me trouxe e continua me trazendo o autoconhecimento, a autoconsciência, o autocuidado e a autocompaixão! Percebo que, a cada dia, esse trabalho interno é fonte de recursos e repertórios que fomentam a possibilidade de melhorar minhas conversas intra e interpessoais, de observar os fatos, os sentimentos, os interesses e as necessidades das pessoas, de entender e respeitar seus pedidos, bem como as formas diferentes de elas pensarem, sentirem e fazerem. Em outras palavras, continuo a “eterna aprendiz” na aceitação e no enriquecimento pessoal do diferente, do surpreendente. Com o Mestrado em Mediação e Negociação, e tantos outros cursos relacionados, focados nas famílias, nas famílias empresárias, nas empresas e nas escolas, muitos horizontes foram desbravados, e o mundo se abriu para mim. Essa trilha, como caminhante determinada, fiz caminhando, sempre com novos e emocionantes cenários!
Com o passar do tempo, fui descobrindo, por conta da Mediação, que não tinha mais vocação para ser uma advogada litigante. Chega ao Brasil, o conhecimento das Práticas Colaborativas no Direito, uma metodologia específica, para garantir que todos os membros da família sejam contemplados nas suas necessidades e interesses, sem eles recorrerem ao Judiciário. Logo em seguida, veio a formação em Práticas Colaborativas no Direito, no Rio de Janeiro e em São Paulo, realizada pelos idealizadores americanos dessa forma de trabalho. Que experiência maravilhosa!!! Que mundo humanizado poderíamos habitar se as pessoas pudessem resolver suas questões através de diálogos colaborativos!!!!
Meu puzzle ainda não estava completo. Para agregar mais valor ao meu trabalho, tanto como advogada, quanto como mediadora, senti a necessidade de fazer a formação em Terapia de Casal e Família. Pensei que, ao terminar minha formação, eu conseguiria ver o desenho completado. Ledo engano! Entendi a importância de estudar o desenvolvimento humano, fazendo conexão com a neurociência, a teoria dos vínculos, o trauma e a educação sexual, emocional infantojuvenil, saberes que constituiram a base para eu tirar o véu dos meus olhos!!
Meu puzzle não se completará enquanto eu viver, mas, com certeza, continuarei caminhando, determinada a proporcionar um mundo muito melhor para se habitar, onde as necessidades nossas e as dos outros sejam consideradas e onde o amor pulse nos relacionamentos.
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